Privados de liberdade mostram bom desempenho em matemática

30/12/2015 15:24
Ganhador de medalha de bronze na Obmep, Flávio Júnior, ao lado da irmã, pretende ser engenheiro elétrico: “Só preciso de uma nova chance para recomeçar” (foto: divulgação)
Medalhista de bronze na 11ª Olímpiada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), Flávio Júnior Dias de Anorato cumpre pena privativa de liberdade na Unidade Penitenciária Doutor Francisco D’Oliveira Conde, em Rio Branco, Acre. Ele sonha ser engenheiro elétrico e acredita que a medalha abre uma oportunidade.
 
“Nem tudo está perdido, e eu só preciso de uma nova chance para recomeçar”, afirma. E garante que pretende continuar os estudos ao recuperar a liberdade. “Com esse resultado, eu me senti capaz e sei que, se estudar, vencerei muitas coisas.”
 
Pela primeira vez na história da Obmep, estudantes que cumprem pena na penitenciária de Rio Branco, atendidos pelo programa Projovem Urbano do Ministério da Educação, tiveram destaque na olimpíada. Dois deles receberam medalha de bronze e outros três foram agraciados com menção honrosa. Participaram da competição de 2015, em todo o Brasil, 18 milhões de estudantes.
 
“A premiação significa que os alunos estão valorizando a oportunidade que é dada a eles”, afirma a coordenadora de educação de jovens e adultos da Secretaria de Educação e Esporte do Acre, Fernanda Alves Nóbrega.
 
Expectativa — “Os alunos das unidades prisionais atendidos pelo Projovem Urbano demonstram interesse pelo curso, pelo material didático e têm expectativas de continuidade dos estudos”, revela a diretora de políticas de educação para a juventude do MEC, Cláudia Veloso. Essa expectativa é apontada pelos estudantes que se destacaram na Obmep, como Thiago Henrique Ribeiro Correia, também medalhista de bronze. Ele pretende continuar estudando e mudar o rumo de sua vida.
 
Cláudia considera gratificante, para a equipe que trabalha com o tema no MEC, o resultado dos alunos da unidade prisional da capital acriana. Este ano, foram registradas 435 matrículas em séries que vão da alfabetização ao ensino médio em unidades daquele estado. O Acre iniciou a oferta de modalidades de educação nos presídios em 1998. Na unidade Doutor Francisco D’Oliveira Conde, mantém a Escola Fábrica de Asas.
 
“O destaque na Olimpíada de Matemática eleva a autoestima”, diz Fernanda Nóbrega. “Um aluno que recebeu menção honrosa se sentiu desafiado a conquistar uma medalha em 2016.”
 
O aluno é Lucas Ruan da Costa Fiúza. Ele jamais imaginou que se destacaria, mas percebeu que, se estudar, pode conseguir muita coisa. “Vou superar as dificuldades aqui dentro, vou estudar e me sair bem melhor na próxima olimpíada da matemática”, promete. Lucas também gostaria de ser engenheiro mecânico.
 
De acordo com Fernanda, a educação oferece a esses jovens a oportunidade de rever valores. Cláudia Veloso concorda: “Eles terão uma compreensão da relação com a sociedade, uma nova postura de participação”, diz. Ela lembra que todos têm direito à educação, mesmo aqueles que estão em regime de privação da liberdade.
 
Readaptação — Destinado à reinserção de jovens na faixa de 18 a 29 anos no processo de escolarização, o Projovem Urbano, com duração de 18 meses, atua em três dimensões: conclusão da educação básica, qualificação inicial e participação cidadã. No programa desenvolvido nas unidades prisionais, há readaptação da carga horária.
 
No ciclo em que os alunos do Acre foram premiados, havia 760 estudantes do programa em estados do Nordeste. No próximo ciclo, que terminará em 2016, devem ser registradas 1.210 matrículas.  
 
Fonte Assessoria de Comunicação Socialdo Ministério da Educação